Publicado em 10 de agosto de 2020
Automedicação: uma cultura perigosa que traz riscos à saúde
Tomar remédio sem prescrição médica é comum para 77% dos brasileiros, conforme pesquisa
No Brasil, é difícil encontrar uma casa que não tenha uma caixa de remédios com uma variedade de analgésicos, antitérmicos, relaxantes musculares e antibióticos.
Em geral, são medicamentos sem receituário médico, indicados por familiares, amigos e vizinhos, aos qual recorremos sempre que estamos gripados ou sentimos alguma dor.
Também constam nessa lista medicações que sobraram de um tratamento específico receitados por um médico e que, mais tarde, usamos para outros fins.
De acordo com uma pesquisa conduzida pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), a automedicação é um hábito comum para 77% dos brasileiros.
Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e 25% o faz diariamente ou pelo menos uma vez por semana.
Não à toa, o uso indiscriminado de medicamentos é uma das principais causas de intoxicação no país.

Um estudo publicado em maio de 2020 na revista Research, Society And Development revelou que, entre os anos de 2010 e 2017, foram notificados mais de 565 mil casos de intoxicação no Brasil, sendo que 52,8% estavam relacionados ao uso de remédios. Destes, a automedicação representa 15,15% dos casos.
Entidades ligadas à ONU (Organização das Nações Unidas) vão além e alertam que o uso de medicamentos sem orientação de um profissional da saúde pode matar até 10 milhões de pessoas por ano até 2050 no mundo.
Automedicação: medicamentos mais usados
Um levantamento realizado pelo Conselho Federal de Farmácia descobriu os remédios mais utilizados pelos brasileiros na automedicação. Entre eles, estão:
- Analgésicos e antitérmicos (50%);
- Antibióticos (42%);
- Relaxantes musculares (24%).

Ainda conforme a pesquisa, 88% compram os medicamentos que utilizam, o que mostra o fácil acesso que as pessoas têm aos medicamentos para se automedicar, enquanto 30% conseguem as medicações no SUS (Sistema Único de Saúde).
Os perigos da automedicação
O uso de qualquer medicamento pode oferecer risco à saúde, mesmo os que são vendidos sem prescrição, principalmente se usados na dosagem ou frequência errada.
“Um simples medicamento para tratar dor de cabeça, ou qualquer outro tipo de dor, pode causar reações adversas graves. E utilizá-lo de forma incorreta pode acarretar o agravamento de uma doença.”
Marcelo Murad, gerente de Medicamentos e Materiais do HCor.

Entre os possíveis efeitos colaterais e complicações da automedicação, destacam-se:
- Intoxicação: causada, muitas vezes, pelo uso inadequado da dosagem de uma substância;
- Reação alérgica: comportamento adverso ou piora dos sintomas;
- Interação medicamentosa: quem faz o uso contínuo de medicações, quando se automedica corre o risco de anular ou potencializar o efeito dos medicamentos;
- Dependência: vício em remédio quando utilizado em dosagem errada ou por tempo além do indicado;
- Camuflagem da doença: quando os sintomas da dor ou mal-estar ficam mascarados pela automedicação, impedindo que a doença real seja descoberta e tratada;
- Resistência ao medicamento: é o aumento da resistência dos microrganismos a um determinado remédio. No caso dos antibióticos, por exemplo, o uso indiscriminado de uma medicação contribui para o nascimento das superbactérias e dificulta a eficácia de tratamentos em infecções futuras.
De acordo com levantamento da ONU, apenas no Brasil, entre 40% e 60% das doenças infecciosas são resistentes a medicamentos, o que representa a morte de 700 mil pessoas por ano.
O risco das principais medicações
Portanto, o uso indiscriminado de medicamentos pode causar várias consequências a longo e médio prazo, como, por exemplo:
- Queda da pressão arterial;
- Mal-estar;
- Tonturas;
- Desmaios;
- Lesões na pele;
- Lesões no fígado
- Insuficiência nos rins;
- Sangramentos no estômago e nos intestinos.

Por isso, é sempre fundamental consultar um profissional da saúde antes de usar qualquer remédio.
A seguir, confira os principais riscos da automedicação a partir do uso de determinados medicamentos, conforme o livro Tarja Preta: os segredos que os médicos não contam sobre os remédios que você toma, escrito pela jornalista Marcia Kedouk.
Aspirina
O uso indiscriminado é o suficiente para aumentar o risco de excesso de acidez no sangue e abaixar a glicose, causando choque cardiovascular e insuficiência respiratória, o que pode levar à morte.
Amoxicilina
O abuso leva à proliferação de bactérias resistentes a antibióticos, fazendo nascer as superbactérias e tornando mais difícil o tratamento de futuras infecções.
Isso também acontece com o uso excessivo de outros antibióticos.
Omeprazol
O uso por longos períodos causa o efeito-rebote. Ou seja, o medicamento inibe a produção de suco gástrico, porém, para compensar, o organismo libera mais gastrina, substância que estimula a produção do ácido.
No entanto, se esse mecanismo é acionado muitas vezes, gera excesso de gastrina. Dessa forma, quando você deixa de tomar o remédio, seu corpo recebe uma enxurrada de ácido estomacal, o que piora as dores, fazendo você retornar ao uso do remédio.
Além disso, esse medicamento causa o desequilíbrio das quantidades de minerais no corpo, que, por sua vez, baixa os níveis de magnésio e traz problemas cardiovasculares.
Paracetamol
O medicamento é usado como antitérmico, mas, quando usado indiscriminadamente, aumenta o risco de lesões irreversíveis e falência dos órgãos, principalmente do fígado (hepatite tóxica).

Sal de frutas
Cada envelope tem 0,85 grama de sódio. Se você tomar dois por dia, chegará a 1,7 grama, portanto, próximo à recomendação diária: de 2 gramas de consumo de sal.
Some a isso os demais alimentos ingeridos no seu dia e você terá uma bomba de sódio no seu corpo, algo perigoso, principalmente para quem tem hipertensão ou doenças cardiovasculares.
Além disso, os antiácidos reduzem a absorção de nutrientes e de outros medicamentos, diminuindo o efeito deles.
Vitaminas C e D
O uso prolongado da vitamina C pode causar diarreias, cólicas, dores abdominais e de cabeça.
Já a ingestão excessiva da vitamina D pode levar a lesões permanentes dos rins, devido ao cálcio que se deposita no órgão.
Conclusão
Possibilitada pelo fácil acesso e por um hábito cultural, a automedicação traz graves riscos para a saúde e deve ser evitada.
O uso indiscriminado de remédios potencializa a proliferação das superbactérias e ajuda a mascarar a real causa dos sintomas, dificultando a detecção de doenças.
Além disso, pode causar danos irreversíveis ao organismo e levar à morte.
Por isso, apesar de ser um ponto importante nos tratamentos, a medicação só deve ser usada quando necessária, na dosagem correta, no tempo determinado e sempre prescrita por um profissional da saúde.
Como vimos, todos os medicamentos têm efeitos colaterais, portanto, o ideal é não precisar fazer uso de nenhum.
Para isso, a prevenção é a chave, o que significa ter hábitos saudáveis, como refeições balanceadas, a prática de exercícios físicos e check-ups de rotina.
E o aplicativo Lyn te ajuda nessa jornada.
A plataforma reúne e gerencia todas as suas informações de saúde como consultas, exames e uso de medicamentos.
Além disso, o app traz ferramentas de análise e orientação sobre hábitos saudáveis e qualidade de vida. Baixe e confira!
Conte conosco!